Fundamentos da demanda: conceitos e variáveis que a afetam

São a oferta e a demanda juntas que fazem funcionar a economia. E é por meio dessa interação que se determina a quantidade a ser produzida e o preço dos produtos. Agora, vamos entender o funcionamento do mercado econômico de acordo com a oferta e a demanda que acontecem apenas no mercado competitivo.

O mercado competitivo é aquele no qual existe um grande número de vendedores e de compradores e nenhum deles, individualmente, consegue exercer alguma influência sobre os preços.

Veja a seguir alguns conceitos que nos ajudam a compreender as características do mercado.
FIGURA 1 - Mercado

  

Fonte: Núcleo de Educação à Distância (NEaD), Anima, 2017.
Para iniciar esse estudo, vamos verificar o comportamento dos compradores ou demandantes.

Conforme descrito por MANKIW (2009, p. 67), "a quantidade demandada de um bem qualquer é a quantidade desse bem que os compradores desejam e podem comprar".

A quantidade demandada irá variar de acordo com o seu preço de venda. Quanto menor o preço de um produto, maior será a quantidade demandada e quanto maior o preço de um produto, menor será a quantidade demandada. Essa é a chamada lei da demanda.

A lei da demanda apresenta essa relação inversa entre preço e quantidade, porque quando o preço de um bem aumenta, alguns consumidores deixarão de adquiri-los e outros irão trocá-lo por outro bem que esteja à altura. Ex.: se o preço do tomate subir, os consumidores podem simplesmente deixar de consumi-lo ou trocá-lo por algum legume.
QUADRO 1 - Tabela de demanda

  

Fonte: Elaborado pelos autores.
GRÁFICO 1 - Curva de demanda

Fonte: Elaborado pelos autores. 

  

Nesse gráfico, podemos verificar que a curva de demanda mostra a relação entre o preço de um bem e a sua quantidade demandada. Podemos perceber que quando há um aumento no preço, a quantidade demandada é reduzida e quando há uma queda no preço, há um aumento na quantidade demandada.

Na videoaula a seguir, serão apresentados três importantes conceitos: mercados de concorrência perfeita, demanda e oferta. 

  

Videoaula: Demanda e oferta 

  

  

  

A função demanda

Para Mankiw (2005), oferta e demanda são as forças que movem as economias de mercado. Determinam a quantidade produzida de cada bem e o preço pelo qual será vendido. Caso precise saber como um fato ou uma política afetará a economia, você precisa pensar primeiro em seus impactos sobre a oferta e a demanda.

Suponha, inicialmente, que todos os mercados sejam perfeitamente competitivos, também conhecidos como mercados de concorrência perfeita. Eles se definem basicamente por duas características:

A. Os bens oferecidos à venda são todos iguais.
B. Os compradores e vendedores são tão numerosos que um único comprador ou vendedor não pode influenciar o preço do produto. São chamados de tomadores de preços, já que devem aceitar o preço que o mercado determina.

Vale ressaltar que a definição de mercado competitivo, ou de concorrência perfeita, é essencial para que você aprenda como as forças de demanda e oferta operam.

A função demanda e seus determinantes

A demanda de um bem qualquer (bem X) é dada pela quantidade desse bem que os compradores (consumidores) desejam adquirir em um determinado período de tempo (semanal, quinzenal, mensal etc.) e que efetivamente possam comprar. Vamos representar a demanda de um bem X pelo símbolo Dx.

A demanda do bem X depende de uma série de fatores. A teoria econômica destaca como mais relevantes, segundo Viceconti e Neves (2007):
• O preço do bem X (Px): variável mais importante para que o consumidor decida o quanto vai comprar do bem. Por exemplo, se você gosta de iogurte e o preço fica mais barato, provavelmente consumirá maiores quantidades.
• A renda do consumidor (Y): embora muitas vezes o consumidor considere atrativo o preço do bem X, ele pode não ter renda suficiente para comprá-lo ou comprar na quantidade desejada. Por exemplo, se sua renda ficar menor, significa que você tem menos dinheiro para seus gastos totais, de modo que você teria que gastar menos com alguns bens. Se a demanda por um bem cai, quando a renda cai, chamamos esse bem de bem normal. Mas se a demanda por um bem aumenta quando a renda cai, diz-se que o bem é inferior. Um exemplo de bem inferior é a viagem de ônibus, já que, se sua renda cai, você terá que abandonar o uso do táxi e buscará fazer suas viagens de ônibus, o que aumenta a demanda por esse serviço.
Portanto, a renda condiciona também a decisão de consumo.
• O preço de outros bens (Pz): se o consumidor deseja adquirir manteiga, por exemplo, ele não olhará somente o preço dela, mas também o preço dos bens substitutos, como a margarina e o requeijão.
A existência de bens complementares também influencia a demanda de X. Suponha que o preço da cobertura de chocolate caia. Você comprará mais cobertura, mas para isso precisará comprar mais sorvete. Quando a queda no preço de um bem aumenta a demanda por outro bem, os bens são chamados de complementares.
• Os hábitos e gostos dos consumidores (H): essa é uma das variáveis mais importantes porque, embora o preço do bem X esteja adequado, inclusive se comparado ao de bens substitutos, e o consumidor possua renda para adquiri-lo, muitas vezes deixa de fazê-lo por não estar habituado ao seu consumo.
Matematicamente, pode-se expressar a demanda do bem X pela função:
FIGURA 2 - Variáveis

Fonte: Acervo Institucional. 

  

A demanda de X resulta da ação conjunta ou combinada de todas essas variáveis. Para que se possa analisar o efeito na demanda de uma mudança no valor de uma variável considerada isoladamente, utilizamos a hipótese coeteris paribus. 

  

 


  

  

Coeteris patibus: Expressão latina traduzida como "outras coisas sendo iguais", é usada para lembrar que todas as variáveis, que não aquela que está sendo estudada, são mantidas de forma constante (MANKIW, 2005). 

 


 

Assim, por exemplo, na necessidade de saber o que ocorre com a demanda do bem X, se o preço dele aumentar, é preciso supor que todas as demais variáveis que influenciam a demanda permanecem com o mesmo valor, de modo que a variação dela seja atribuível exclusivamente à variação do preço.

Nesse caso, de acordo com Viceconti e Neves (2007), podemos reescrever a demanda do bem X como sendo apenas função do preço do bem X, já que as demais variáveis ficam com seu valor inalterado.

Dessa forma, Dx = f (Px), sendo Y constante, Pz constante e H constante. A essa relação denominamos função da demanda do bem X, que será representada graficamente pela curva de demanda do bem X.

No gráfico, P representa o preço do bem X, e Q, a quantidade demandada de X. Os pontos F, G, H e I são exemplos de como a variação no preço de X influencia a sua quantidade demandada. Perceba, no gráfico, que à medida que o preço cai, por exemplo de F para G, a quantidade demandada do bem aumenta. 

  

GRÁFICO 2 - Curva de demanda do bem X  

  

Fonte: Elaborado pelos autores. 


A curva de demanda é descendente da esquerda para a direita (há duas exceções a esse formato que, em breve, estudaremos). Deriva-se daí a Lei da Demanda. 

 


 
 

 

Tudo mais mantido constantemente, a quantidade demandada de um aumenta quando o preço do bem diminui.

A quantidade demandada é a quantidade do bem que os compradores desejam e podem comprar. 

 


 

Deslocamentos da curva de demanda  

  

A curva de demanda irá deslocar em relação a sua posição original quando uma das variáveis, que supomos constantes quando traçamos a curva (Y, Pz e H), mudar de valor. Ela se deslocará para a direita da posição original quando a mudança do valor da variável, antes suposta constante, contribuir para aumentar a demanda; e se deslocará para a esquerda da posição original quando contribuir para diminuir a demanda (VICECONTI; NEVES, 2007). 

  


  
 

  

Por exemplo, caso se anuncie pelos órgãos competentes que pessoas que tomam sorvete regularmente têm vidas mais longas e saudáveis, o gosto delas mudará e aumentará a demanda por sorvete. A qualquer preço dado, os compradores agora desejam comprar maior quantidade de sorvete e a curva de demanda por sorvete se desloca para a direita.

Quando qualquer fator determinante da demanda, exceto o preço, muda, a curva de demanda se desloca. 

 


  

  

A curva demanda é representada, matematicamente, por uma função e, graficamente, por uma reta. 

 



Nesse gráfico, P indica o preço do bem, e Q, a quantidade. A curva de demanda inicial é D e ocorre o deslocamento da curva para D'. Isso ocorre quando um dos fatores supostos constantes (Y, Py e H) se altera e, nesse exemplo do gráfico, provoca uma queda na demanda. 

  

GRÁFICO 3 - Deslocamento da curva da demanda para a esquerda  

  

Fonte: Elaborado pelos autores. 

  

Deslocamentos da curva de demanda para a direita são causados pelos motivos opostos: aumento da renda (bens normais) ou queda da renda (bens inferiores); aumento no preço dos bens substitutos que irá provocar uma demanda maior de X, já que os consumidores mudarão seu consumo; mudança no hábito de consumo como reflexo, por exemplo, da propaganda.

Observe que há uma diferença entre variação na demanda e na quantidade demandada. Mudanças no preço de X não provocam o deslocamento da curva de demanda. A mudança no valor da demanda ocorre, nesse caso, ao longo da própria curva. Veja o exemplo no gráfico a seguir. 

  

GRÁFICO 4 - Mudanças no valor da demanda  

  

Fonte: Elaborado pelos autores. 


Ao preço P1, a quantidade demandada é Q1. O preço do bem cai para P2 e a quantidade demandada aumenta para Q2, de acordo com a Lei da Demanda. Perceba que o preço variou, ocasionando uma variação da quantidade demandada, mas sem o deslocamento da curva. Quando lhe apresentamos a Lei da Demanda, citamos que há duas exceções a essa Lei. Agora, vamos conhecer esses dois casos particulares. 

  

Bens de Giffen e Bens de Veblen  

  

Você já ouviu falar de Bens de Giffen? E Bens de Veblen? Imagina o que possam ser? Então, vamos ver se o que imaginou corresponde à definição de cada um deles. 

  

Há duas exceções à Lei da Demanda: os bens de Giffen e os bens de Veblen. Essas denominações são originadas dos nomes dos economistas que desenvolveram essa teoria. Os bens de Giffen são bens de pequeno valor, porém de grande importância no orçamento dos consumidores de baixa renda. O exemplo proposto por Giffen é o caso do pão. Segundo Viceconti e Neves (2007, p. 20), o economista Giffen, que viveu no século XIX, observou que: 

  

O consumo de pão das classes mais pobres de Londres aumentava à medida que o preço subia. A explicação era de que, antes do aumento do preço do pão, os consumidores pobres ainda podiam comprar alguns outros bens que eram mais caros que o pão. Após a elevação do preço do pão não sobrava renda suficiente aos pobres para adquirir os outros produtos mais caros e, consequentemente, acabavam consumindo maiores quantidades de pão, que ainda era o bem mais barato que podiam comprar. (VICECONTI; NEVES, 2007, p. 20)  

  

Assim, no caso do bem de Giffen, ocorrendo uma elevação em seus preços, seu consumo paradoxalmente tende a aumentar. Isso porque, embora seu preço tenha aumentado, são ainda mais baratos que os demais bens. Para o consumidor, após o aumento, sobra menos renda e ele não poderá adquirir outros bens (por serem mais caros) e acabará consumindo maiores quantidades do bem de Giffen. 

  

Os bens de Veblen são bens de consumo ostentatório, tais como obras de arte e automóveis de luxo. O consumidor desse bem tem como objetivo mostrar aos outros que é possuidor de grande renda, quanto mais caros, mais procurados.

Dessa forma, podemos perceber as duas exceções nesses dois casos em relação à Lei da Demanda: quando o preço aumenta, a demanda também aumenta. A representação gráfica da curva de demanda dos bens de Giffen e Veblen será crescente, evidenciando a relação direta entre preço e quantidade demandada.

Estudamos e caracterizamos a demanda, ou a procura, sua determinação e seu deslocamento, bem como sua relação com o preço do bem. A partir de agora, estudaremos o lado da oferta.

Assista ao vídeo abaixo que trata sobre deslocamento da curva de demanda. 

  

Videoaula: Deslocamento da Curva de Demanda